sábado, 29 de abril de 2006

Free Love



Hoje esteve um maravilhoso dia de primavera, de manhã, como habitualmente, passei junto à Costa da Caparica a caminho de Lisboa. O mar estava sereno com uma pequena ondulação que começava a rebentar longe e estendia os seus dedos brancos longamente até à areia.
-Dark! - exclamou ele assim que me viu - uma das minhas sereias quer falar contigo.
Finalmente vou puder falar com uma sereia, pensei com o coração a bater descompaçadamente. - Sim, claro, vou já aí ter - disse-lhe com uma tremura de excitação mal disfarçada na voz.
Sentei-me a comer qualquer coisa enquanto esperava por ela - Olá! És tu o Dark - fiquei petrificado, o meu coração parou de bater - o mar disse-me que estavas aqui e ele tem falado tanto de ti que te quiz conhecer.
Não consegui dizer uma palavra, na minha frente estava o mais belo ser do Universo, os seus cabelos eram areia do fundo do Oceano Indico e os seus olhos eram dois pedaços do mar das caraíbas, o seu corpo era moldado pelas ondas do pacífico sul.
- Senta-te, vou buscar-te um café - disse-lhe recuperando o folgo. Voltei a sentar-me junto dela e ali fiquei conversando durante horas e horas. A sua voz tinha a melodia das ondas rebentando suavemente numa praia a pôr-do-sol, o seu perfume era salgado como a maresia. Por fim ela disse -Tenho de me ir embora, de voltar para o meu mundo.
-Não! - implorei-lhe - Não vás! Fica comigo!
-Como gostava - respondeu-me mas o meu mundo é lá embaixo de água e o teu cá em cima, em terra - Senti-me o mais triste dos homens e gritei-lhe - Eu AMO-TE não te vás, quero ficar contigo para sempre!
- Eu também te AMO mas o meu lugar é no fundo do Oceano e o teu aqui sobre a terra. - retorquiu-me com uma lágrima no canto dos olhos.
- Se me AMAS porquê que vais? O que há de mais importante do que o AMOR? - perguntei-lhe desesperado.
- Sabes que nem eu posso viver aqui nem tu lá embaixo. Eu AMO-TE mas o meu lugar é lá.
Ela afastou-se, e eu fiquei a vê-la descer até desaparecer da minha vista. Fiquei ali olhando para o mar. Este ao ver a minha dor veio por um braço sobre os meus ombros - Olha filho, de facto vocês não podem estar juntos, mas podes sempre ir visitá-la quando mergulhares, mas sabes bem que tens de voltar à superfície, outras vezes ela poderá vir ter contigo, mas ao fim de algum tempo terá de voltar para o fundo do oceano.
- O que há de mais importante do que o AMOR - perguntei de novo.
- Mas tu morrerás se te acabar o ar das garrafas. O AMOR é o mais importante da vida, mas se ficas lá embaixo acabas por perdê-la.
- É, só me resta ficar com ela enquanto durarem as garrafas, pelo menos até criar guelras. Sim eu vou criar guelras, ou então morrerei afogado. De uma maneira ou de outra ficarei com ela para sempre.
- És doido, - replicou-me o mar - completamente doido.
- O AMOR nada tem a ver com a razão, sabes. Ele não é planeado, ele não é orquestrado, ele não se constroi nem se calcula. Simplesmente brota, surge sempre que 2 almas se complementam. Por isso é que nunca é pecado AMAR.
O mar pensou por uns momentos e disse - Nada do que me dizes é novidade para mim, apenas queria ver até que ponto sabias o que era o AMOR. Sabes a maior parte dos Homens confunde AMOR com apego, constroi uma imagem da sua sereia como se ela fosse uma Mulher, e depois acaba por secá-la ao mantê-la cá em terra, outras vezes ela acaba por fugir. Temos de deixar que a natureza daquele que AMAMOS se manifeste livremente. E eu queria saber até que ponto sabias o que era o AMOR. Agora vejo que és capaz de abdicar da própria vida por AMOR, AMOR verdadeiro, agora sei que mereces ficar com ela e ela contigo. Vem, trás as garrafas, vai ter com ela e não te preocupes, na altura certa hão-de crescer-te as guelras, porque o AMOR é todo-poderoso.

AMEM livremente, sem compromissos, sem segundas intenções no Lado Escuro da Lua!


Fiquem Bem!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Conversas com o Mar I





Estou em Sagres, o vento sopra forte – como de costume por estas bandas – e trás calor, um ameno calor de verão. O mar é um amigo, por vezes cruel, por vezes doce, mas sempre pronto para nos escutar e dar os seus conselhos.

Não sabiam? O mar dá-nos conselhos, a maior parte das pessoas não os ouve, mas ele fala connosco, umas vezes suavemente, outras colérico, às vezes chega a ralhar. Experimentem a sentar-se na areia à sua beira, esperem em silêncio e vão ver que ele começa a falar convosco.

Uma vez contou-me que lá bem no fundo ele tem sereias, que são as mais belas criaturas do Universo, mas que elas estão magoadas com os Homens porque eles não ouvem o mar nem a elas. E tu? - Perguntei – Não ficas aborrecido dos Homens não te ouvirem? Ele riu-se, com aquelas gargalhadas que só ele consegue dar, e perguntou-me – E tu meu tonto? Não és tu um Homem? Não estás por acaso aqui a ouvir-me? - Voltou a rir-se cavernosamente, e acrescentou – Há mais marés do que marinheiros, nunca ouviste? Assim, eu já cá estava antes de vocês chegarem e cá vou continuar depois de vocês partirem, por poucos de vocês que me ouçam é bem melhor do que quando não havia ninguém para me ouvir.

Fiquei triste, imaginando como era solitária a vida do mar, ele pousou-me um dos seus braços em cima de mim e exclamou – Anda brincar, a tua vida são 2 dias, tens de aproveitá-la, eu às vezes tenho pena de vocês, vivem a correr de um lado para o outro e a trabalhar e não têm tempo para brincar. Olha eu já era adulto quando vi a humanidade nascer e não passa um dia que não brinque, se não for aqui contigo, brinco na Califórnia com os leões-marinhos, senão no Brasil com os golfinhos. Olha! Um dia apresento-te às sereias, vais ver como são bonitas e danadas para a brincadeira, tens é que continuar a ser um brincalhão, senão elas nem te querem ver.