terça-feira, 9 de outubro de 2007

On An Island III

Marina de Vilamoura (scan de uma foto já perdida no tempo)


O nevoeiro acompanhou-me até à porta de casa convidando-nos a entrar, a lareira crepita na sala, sentamo-nos na sua frente. Retiro do bolso as pedras que recolhi na praia colocando-as junto às labaredas que as aquecem. Após estarem na temperatura certa, uso-as para lhe fazer uma relaxante massagem. Voltamos a beijar-nos e deixamos os nossos corpos unirem-se, não trocamos uma única palavra, não precisamos basta olhar profundamente nos olhos e sabemos o que cada um quer dizer ao outro. As nossas sombras dançam na parede oposta impulsionadas pelo saltitar das chamas. Beijamo-nos mais uma vez, a nossa respiração está ofegante e por fim apertamo-nos ainda mais num momento de prazer supremo.

Voltou a calma, aquela paz, aquela serenidade. Voltei a pôr o disco, ajeito os troncos na lareira de modo a intensificar as chamas, volto deitar-me ao lado dela e abraço-a olhamos pela janela e vemos a lua desenhar as sombras dos pinheiros no chão, a voz do David Gilmour começa a ouvir-se e murmuramos as letras com ele…

On An Island

Remember that night...
White sails in the moonlight
The
y walked it too...
Through empty playground, this ghost's town
Children again on rusting swings getting higher
Sharing a dream
On an Island.... it felt right
We lay side by side,
Between the moon and the tide
Mapping the stars for a while
Let the night surround you
We're half way to the stars,
Ebb and flow
Let it grow..... feel the warmth beside you

Remember that night,
The warmth and the laughter
Candles burn...
Though the church was deserted
At dawn we went down through empty streets to the harbour
Dreamers may leave ...but we're here everafter...
Da da da da da....
Let the night surround you
We're half way to the stars,
Ebb and flow
Let it grow..... feel the warmth beside you...


Fim (por agora)

Fiquem Bem!

sábado, 6 de outubro de 2007

On An Island II

Belém 28/08/2007

Concentro-me a olhar para o mar, ali ao lado, está calmo agora. Ao longe uma vela recorta-se no horizonte, entre dois tons de azul, desloca-se lentamente, a paz invade-me, uma paz profunda, serena. Os acordes da viola levam-me até ao veleiro onde me deito numa rede observando o azul profundo do céu. Um Albatroz desloca-se através da esfera celeste sem um único batimento de asas e afasta-se, placidamente.

Respiro fundo, o vento aumenta de intensidade acelerando o barco, a proa corta as ondas, salpicos de agua atingem-me a cara, olho pela popa e observo o risco que a esteira desenha na superfície do oceano, ainda assim impera a calma, respiro fundo mais uma vez. Uma sensação de calor apropria-se do meu peito, a velocidade aumenta, mas a serenidade subsiste. O vento assobia nos brandais, o clímax foi atingido, um momento orgásmico.

Aquela sensação de doce cansaço invade-me enquanto oiço os acordes de saxofone de “Red Sky at Night” e os céus tomam esse tom do pôr-do-sol filtrado pelas nuvens, de vez em quando uma suave aragem acaricia-me a cara e provoca um arrepio nas águas do mar. Sinto-me no céu, aliás condizendo com o que estou a ouvir agora “This Heaven”, nada tem importância agora, apenas eu e esta paisagem deslumbrante. Baloiço na rede acompanhando o ritmo da música.

Chego a terra, ouve-se as ondas a espreguiçarem-se no cascalho da praia, arrumo a palamenta, caiu um manto de nevoeiro e ouve-se ao longe a sirene do farol, alertando da proximidade de rochedos, ainda de vê o seu clarão no meio de nevoeiro. Fecho os olhos e inspiro aquele cheiro a maresia, sinto-me a flutuar no nevoeiro, lentamente, deixo o ar escapar lentamente ronronando de prazer, para voltar a encher os pulmões. Um sorriso invade a minha cara quando a vejo junto da porta de casa entreaberta, abraço-a e beijamo-nos ternamente, acaricio-lhe o cabelo e contemplo o seu belo e sereno sorriso enquanto encosta a cabeça no meu ombro. Deixo-me ficar ali admirando aquele sorriso terno e sentido o calor do seu corpo enroscado no meu.

Continua

Fiquem Bem!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

On An Island I

O meu cantinho em 23/03/2006

Acho que ainda não falei deste álbum, talvez dos mais belos dos últimos anos, na minha perspectiva o melhor deste século. A sensação que me transmite é de uma profunda paz e serenidade. David Gilmour aparece aqui mais maduro, menos agressivo, menos depressivo. Um verdadeiro hino à felicidade e à calma. Só muito raramente um disco consegue transmitir tanta tranquilidade. SUBLIME.

Fechei os olhos e imagino-me a olhar para um lago cujas águas imaculadas pela ausência de qualquer brisa, reflectem um castelo numa ilha. O horizonte perde-se na bruma, ao longe ouve-se o som grave, quase cavernoso, das ondas do mar embatendo nos rochedos. Está frio, um frio seco, quase cortante, o céu coberto de nuvens que apesar do seu aspecto tempestuoso, combinam nesta paisagem conferindo uma moldura a todo este quadro. Sente-se alguma electricidade no ar, ouve longínquo um trovão, e nota-se claramente o cheiro da iminência da chuva.

A tarde aproxima-se do fim, pequenos bandos de aves cortam o ar a caminho dos seus ninhos, deixando aqui e ali escapar um trinado. Ao longe sobre as falésias adivinha-se o habitual frenesim de fim de tarde das gaivotas, do outro lado nas colinas que se adivinham verdejantes no cinzento da bruma, um rebanho de ovelhas pasta pachorrentamente, ouve os seus sinos assim como o latir dos cães pastores que se afadigam a reagrupar as que se tresmalham. Não sinto qualquer pressa nem vontade de abandonar este local mágico, olho para o relógio e verifico que os ponteiros estão parados. As sombras também não se movem, o tempo ficou congelado num longo segundo. Não reajo, não tenho fome, nem sede, nem cansaço, nem stress.

Continua - Um parêntesis para informar que devido à extensão do texto tive de cortá-lo. Irei publicar os diferentes excertos nos próximos dias. Um conselho, faz todo o sentido ler o texto acompanhado pela música, pois foi ouvindo-a que encontrei inspiração para escrever.

Fiquem Bem!