terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Fantasmas

música: Angels - Robbie Williams

Hoje sonhei com fantasmas, sonhei que estava no fundo do mar, e no meio da escuridão e da suspensão os tinha visto, turvos como se no meio de um nevoeiro se escondessem.

Havia uma neblina verde, um ambiente lúgubre, no entanto sereno, voltei a ver os fantasmas, passaram ali ao lado, seriam de marinheiros ou de piratas? seriam de exploradores ou curiosos?

Que interessa o que eram? Apenas são fantasmas, sombras de uma vida passada, relâmpagos de uma vida que há-de vir. Um pesadelo? Não! Do mar não vêm pesadelos. Um sonho? Talvez! Pois é no mar que nascem os sonhos.

Será apenas o reflexo de um farol? E se for um farol fantasma? Há navios fantasmas, porque não há-de haver também faróis?
Eram peixes, provavelmente, pois aqui é o seu reino, mas também é de Nereu, Poseidon, das ninfas, das sereias e dos tritões.

Este também é o seu reino, este é o meu reino, serei eu um fantasma? Estarei aprisionado num limbo do qual me liberto aqui neste mundo imponderável, onde a beleza impera e onde podemos sentir a PAZ, o AMOR e a SERENIDADE

Aqui ouço o canto dos anjos, aqui sou verdadeiramente feliz, liberto da dor da gravidade, posso voar, rodopiar, aqui livre das grilhetas do ódio e da inveja partilho a minha alegria com todos os seres que me rodeiam.

Descobri que os peixes são na realidade anjos, que em vez de asas têm barbatanas, que o AMOR é infinito e que a PAZ é eterna.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Eu me perdi

música: Lost? - Coldplay
As ondas desfazem-se na areia elaborando uma pintura surreal com a sua espuma branca e cantando uma melodia de amor em tons graves. O vento acaricia-as deixando atrás uma nuvem de água. Um pequeno barco aproxima-se traçando uma linha branca no azul profundo do mar, vem vazio, nem as gaivotas se importunam a visitá-lo. Aqui e ali uma gaivota passa a rasar as águas, 2 surfistas baloiçam nas ondas, apesar do frio intenso que se faz sentir sinto-me tentado a ir também para lá. A minha mente recua no tempo nostalgicamente.

São 10 horas do dia 3 de Janeiro de 2009 em Sesimbra. Dirijo-me para o barco. Subitamente começa a chover apesar de ter estado um dia de sol; cumprimento a chuva, é a antecipação da entrada nos domínios de Poseidon, um aperitivo. Entramos na água, está turva, muito turva, vê-se pouco mais de 5 metros. Descemos felizes apenas por ali estarmos, um cardume de sargos surge no meio da suspensão como se fossem fantasmas no nevoeiro de um cais assombrado.

Um bodião vem acompanhar-me e conduz-me até uma bela esponja amarela contando-me que já foram conhecidas pelo ouro do mar. Na penumbra admiro-a, admiro o silencio que me rodeia, a imobilidade, o ser e o não ser daquela criatura tão estranha e ao mesmo tempo tão familiar.

Sigo-o pelo fundo do mar e por entre algas e medusas acabo por vislumbrar uma magnífica gorgónia. Contemplo um a um os seus frágeis braços de uma bela filigrana.
Perco-me por entre aquelas hastes ondulantes na corrente, sinto-me integrado naquele mundo, naquela beleza, naquela serenidade.

Mais abaixo vejo um caranguejo que tenta desesperadamente esconder-se da luz que é projectada pela minha lanterna, fico ali uns momentos e tento convencê-lo que não estou ali para lhe fazer mal. Agradecido, deixa-se fotografar, a calma volta a invadir o fundo do mar, os bodiões, as judias, os sargos, passeiam à minha volta naquela atmosfera quase fantasmagórica.

Poisam-me um café ao lado, despertando-me desta viagem ao passado. O cheiro dele associa-se à maresia e deixa-me inebriado, junto-lhe um pau de canela, os cheiros acentuam-se, não resisto mais e bebo-o com prazer.

Volto a contemplar o mar, as ondas continuam a desfazer-se preguiçosamente na areia.
O pequeno barco já desapareceu, os 2 surfistas continuam ali embalados pelas vagas e eu sinto-me em paz, feliz por ali estar, por desfrutar aquele momento. Rezo uma oração de agradecimento a todos os deuses que a humanidade já honrou, à natureza, ao Universo, na forma de um poema de Sophia de Melo Breyner:

Eu me perdi

Eu me perdi na sordidez de um mundo
Onde era preciso ser
Polícia agiota fariseu
Ou cocote

Eu me perdi na sordidez do mundo
Eu me salvei na limpidez da terra

Eu me busquei no vento e me encontrei no mar
E nunca
Um navio da costa se afastou
Sem me levar



Não se percam no Lado Escuro da Lua!